sábado, 19 de novembro de 2016



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BOCA N.º 31: «CUSPIDELA» OU «ESCARRADELA»?

O tema da semana foi, sem margem para discussão, o arrufo entre o presidente do Sporting e do Arouca no final do jogo entre estas duas equipas na última jornada do campeonato cá do burgo agora baptizado de "liga qualquer coisa". Afinal, o que é que se passou?
Na conferência de imprensa a seguir ao jogo - o bocas lusas  viu em directo no próprio dia - o representante da equipa visitante rachou o Bruno de Carvalho de alto abaixo. Assim por alto o Sporting era uma instituição muito grande e não merecia um presidente tão relezinho, mas de cuspidelas não se ouviu nada. A contra-parte - o bocas lusas viu em diferido no dia seguinte - de viva voz disse que os de Arouca é que eram do «piorio», mas de cuspidelas também não se ouviu nada.
Com a divulgação das imagens captadas pelas câmaras instaladas no local  começou a circular a versão de que o Bruno de Carvalho  é que deu origem aos tumultos cuspindo na cara do presidente do Arouca, isto porque nas ditas imagens se via algo expelido pelo primeiro em direcção ao segundo. Os da Serra da Freita defendem que foi mesmo uma cuspidela. A concorrência benfiquista e portista, representada abundantemente nos programas televisivos da especialidade, em regra apoia os de Arouca e chega por vezes mais longe dizendo que não foi uma simples «cuspidela», mas sim uma grandessíssima «escarradela». Perguntei a um dos que juram a pés juntos que se tratou de uma «escarradela» - por sinal meu amigo - com que base chegou a esta conclusão e a resposta que me deu deixou-me pensativo: se fosse «cuspidela» praticamente não seria perceptível à distância a que a imagem foi captada porque uma «cuspidela» de um individuo em bom estado sanitário é entre o transparente e o branco. Portanto, se foi perfeitamente visível àquela distância é porque era uma «escarradela» cuja cor se situa normalmente entre o amarelo e o verde, logo mais facilmente se destaca. 
Os lagartos, como é evidente, dizem que a tal nuvem, neblina ou nevoeiro (não sei o que lhe hei de chamar) não foi mais do que o fumo, fumaça ou vapor de água (também não sei o que lhe hei de chamar) expelido pelo presidente do Sporting que é fumador de cigarros electrónicos (fumador? não faz mais sentido nestas circunstâncias chamar vaporizador?).
Foi necessário o Paulo Futre fazer uma demonstração em directo para dissipar as dúvidas que nós próprios já começávamos a ter em face da tal teoria das cores. Em dez segundos, com apenas uma «cachimbada», preto no branco, o antigo internacional provou que não é possível expirar o dito vapor de água produzido pelo cigarro e simultaneamente cuspir. E se não é possível cuspir muitos menos é possível escarrar porque o escarro vem das entranhas e implica um movimento torácico muito mais pronunciado. Com a referida experiência em directo - isto é que é serviço público - o notável comentador prestou um enorme serviço à liga de futebol profissional, poupando-lhe avultados recursos em perícias para determinar a natureza do tal fenómeno físico produzido pelo presidente do Sporting. Se não fosse aquela experiência feita em estúdio com toda a certeza seria necessário enviar as imagens para o laboratório de polícia científica que provavelmente não chegaria a conclusão nenhuma porque na altura não foi recolhida nenhuma amostra biológica. Como é que este conceituado organismo poderia determinar se se tratava de mera saliva ou algo mais apenas pelas imagens? E mesmo que fosse uma «cuspidela» seria necessário provar que foi produzida com dolo porque como nós sabemos há indivíduos - alguns até são políticos de nomeada - que não conseguem dizer nada sem mandar uns quantos perdigotos cá para fora. Aliás, há dois ou três que acumulam mais espuma nos cantos da boca do que o meu boxer quanto está exaltado e olhem que quando ele está bruto chega a fazer balões do tamanho de uma bola de golfe. E já que estamos neste registo, conheci um padre que durante o sermão expelia tantos gafanhotos que os três primeiros bancos da plateia estavam sempre vagos e a determinada altura já nem conseguia abrir o missal que, de tanta saliva receber, ficou um autêntico tijolo. Vamos condenar estas pessoas por serem assim? Não. O mundo é composto de babosos e não babosos.
A situação, porém, não foi de todo negativa na medida em que acabou por revelar uma fraqueza do sistema que doravante vai ter de ser resolvida. Qual é o papel do 4.º árbitro? Quer parecer-nos que o personagem tem de trabalhar mais um pouquito para justificar o que lhe pagam. O árbitro principal e respectivos auxiliares correm que se fartam durante o jogo e no final é da mais inteira justiça que vão tomar banho. Mas o 4.º árbitro nem tanto. Este elemento, se calhar, uma vez que não tem grande necessidade de ir ao banho logo após o final do jogo, vai ter de permanecer ali na zona do túnel de acesso para fiscalizar o comportamento dos dirigentes dos clubes e provavelmente vai ter de estar munido com uns kits rápidos para identificar a natureza dos fluídos orgânicos expelidos pelos mesmos durante as conversas «amigáveis» que normalmente têm no final dos jogos. Já há no mercado uns testes rápidos, assim do género dos que as polícias usam para os estupefacientes, que permitem diferenciar a saliva do escarro. São fáceis de utilizar. Basta recolher a amostra, inseri-la num pequeno recipiente, fazê-la reagir com um produto químico e o resultado é imediato. Desta forma a natureza do fluido pode logo ser mencionada no relatório da equipa de arbitragem evitando todas estas cenas. Quem sabe se esta forma de actuação não pode depois ser exportada para os outros países que sofrem do mesmo mal. Estamos a ver se descobrimos algum algures em África ou...... Bem, não estamos a ver nenhum onde aconteçam polémicas destas.


Bocas lusas.




sexta-feira, 11 de novembro de 2016

BOCA N.° 30: HILLARY TRUMP OU DONALD CLINTON?

Esta semana, huf..... Terminou finalmente a telenovela das eleições americanas. Entre o início da campanha para  realização das primárias e a última terça-feira decorreu ano e meio. Foram mais de quinhentos dias de feira constante (em metade deste período em Espanha houve <<quase>> meia dúzia de eleições) sempre a malhar no mesmo: por um lado o político profissional e com discurso estudado representado pela senhora Clinton que garantia a continuidade sem sobressaltos; por outro lado o outsider desbocado representado pelo senhor Trump cuja única garantia era um salto para o desconhecido. Quem ganhou? O Sr.  Trump. Novidade? Só para alguns.
Se os EUA fossem apenas constituídos pelas elites dominantes para quem a manutenção do status quo servia na perfeição os seus intentos, a senhora Clinton não necessitava sequer de fazer campanha. Se os EUA tivessem uma classe média economicamente estável que tivesse tudo a perder com mudanças bruscas, a senhora Clinton podia dormir descansada. O problema é que a elite existe e terá votado maioritariamente nela, mas a classe média nos termos descritos talvez só exista na mente de algumas pessoas. Esta franja significativa do eleitorado, que nos países desenvolvidos faz ganhar eleições, virou o disco ao prego e preferiu saltar para o desconhecido, trocando as voltas à candidata democrata. Fê-lo porque está estagnada há muitos anos e sem prespectiva de melhoras. Na América,  o cidadão comum,  num dia tem uma casinha jeitosa e um emprego bem remunerado, no dia seguinte é despedido sem aviso prévio e perde a casa por execução da hipoteca. Em suma, neste país, de cidadão remediado a dormir debaixo da ponte vai apenas um passo.
E muitos americanos deram esse passo nos últimos tempos. Nos últimos anos milhões de típicos cidadãos americanos, homens brancos de ascendência norte europeia,  foram atirados para a quase indigência e passaram a viver de subvenções públicas como os descendentes de latinos e africanos que ainda há pouco tempo eram vistos pelos primeiros como " o grande mal da América". Para esta gente a pior coisa que se lhe podia oferecer neste momento era a política de continuidade que significa mais do mesmo.
E agora? O discurso da vitória já demonstrou um Donald <<Clintonizado>>. As palavras que dirigiu aos americanos e ao mundo não foram muito diferentes das que nas mesmas circunstâncias terão dito Obama, Bush (pai e filho) Clinton (marido), Reagan, Carter ou mesmo Lincoln, Jefferson ou Washington nos primórdios da nacionalidade: uma coisa é a retórica de campanha; coisa muito distinta é a linguagem institucional.
É verdade que Trump vai dispôr de condições únicas ao ter maioria simultaneamente no Senado e no Congresso. Vai inclusive ter a possibilidade de nomear alguns juízes do Supremo Tribunal Federal onde verdadeiramente as questões de fundo se resolvem. Mas será que conseguirá concretizar metade do que prometeu? O muro de 3400 km na fronteira com o México. A descida de impostos quase a zero para as empresas. Sem falar de todas as outras medidas estapafúrdias tanto no plano interno como externo.
É tudo treta e o tempo encarregar-se-á de o demonstrar.
PRIMEIRO. O personagem não goza propriamente da melhor reputação no interior do partido Republicano. Por isso, sem o afrontar directamente, também não lhe passará carta branca.
SEGUNDO: Vamos a ver se depois das primeiras calinadas continuam a aparar-lhe o jogo. Para nós, assim que o mundo começar a rir de soslaio com as tiradas do homem, algum esqueleto há de saltar do armário no intuito de o <<por com dono>>.
TERCEIRO: A figura do impeachment que derrubou a Dilma não foi inventada por eles? Nem sequer era novidade já que o sr. Clinton esteve vai não vai à conta das aventuras com a secretária (mulher) e debaixo da secretária (móvel). E o sr.  Nixon foi mesmo sem ser necessário recorrer a esta medida extrema com a trapalhada do watergate.

Portanto, e para concluir, mais do que falta de vontade de fazer vai ser falta de tempo para fazer.


PS. Até que isso aconteça vamos apreciando a cara metade que é bem jeitosa. Mas que não abra a boca senão deita tudo a perder.


Bocas Lusas

sábado, 5 de novembro de 2016





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BOCA N.º 29: AGARRA QUE É LADRÃO, ASSASSINO OU AFIM


A telenovela construída em torno dos crimes de Moimenta-da-Beira aqueceu o sangue deste humilde escriba a ponto de o fazer acordar novamente de longa hibernação. 
Jazia ainda o corpo do agente da autoridade no local onde fora executado sem dó nem piedade e já a teoria da conspiração começava a circular. Afinal o que andava aquela alminha a fazer naquele local àquela hora da noite? Esta pergunta na cabeça de alguns cretinos faz sentido porque os guardas são pagos para passar as noites a dormir nos postos e não para patrulhar os locais ermos a desoras. Mas só na cabeça cheia de gravilha desses dementes.
Nunca ninguém disse a esses mentecaptos, não têm outro nome, de que por esse país fora há muita gente de bem a construir a sua habitação a pulso - outro tanto se diz de gente empreendedora relativamente às instalações da sua empresa – que num dia põe a caixilharia de alumínio no local e na manhã seguinte já pode ir comprar outra. 
Nunca ninguém disse a esses estúpidos, não têm outro nome, que os furtos de cobre utilizado nas instalações de aquecimento rendem muito bom dinheiro a alguns patifes que, pelos vistos, são os únicos que têm o direito de circular livremente por onde quiserem e à hora que bem entenderem. 
Nunca ninguém disse a esses palermas, não têm outro nome, que há empresários, sobretudo empreiteiros, que no fim da jornada de trabalho deixam os depósitos de combustível dos seus veículos e máquinas atestados junto às obras e no inicio da jornada seguinte não têm uma única gota para retomar as operações. Isto se tiverem a felicidade de ainda terem as respectivas baterias, jantes e outros componentes.
Nunca ninguém disse a esses labregos, não têm outro nome, que a caça ilegal é praticada nos locais desabitados e madrugada adentro, com enorme prejuízo para a fauna que é património de nós todos. Desconhecem certamente que há cidadãos exemplares a zelar pela preservação e fomento das espécies mais ameaçadas para meia dúzia de chico-espertos encherem as arcas frigoríficas e fazerem umas petiscadas à conta do otário.
Pelos vistos nunca ninguém disse a esses imbecis, não têm outro nome, mais uma série de coisas que os guardas têm obrigação de fazer durante a noite nos locais mais recônditos porque é para isso que lhes pagam. 
A conspiração foi ao ponto de se ouvir gente que supostamente joga com o baralho todo defender que a coisa está muito mal contada. Aconteceu tudo diferentemente daquilo que veio a público. Quem matou não matou. Quem morreu não morreu. Quem ficou ferido não ficou ferido. Quem passou acidentalmente no local nunca lá passou. Quem fugiu não fugiu. Os tiros não foram tiros. O sangue deixado no local não era sangue. Os carros abandonados não eram carros e se eram não foram abandonados. E assim sucessivamente.  Ou seja, as evidências apontam todas num sentido, mas o mais certo é que as coisas tenham ocorrido em sentido inverso. 
Neste país é mesmo assim: quando o Governo diz que as coisas estão bem é porque estão mal; quando o JJ diz que o Sporting vai ganhar é porque vai perder e, já agora, quando minha a mulher diz que lhe dói a cabeça não lhe dói coisa nenhuma. Portanto, quando o Guarda disser que deu um tiro na cabeça nessa altura sim, podem convencer-se que foi um malandro que lhe enfiou um balázio na tola porque as coisas são sempre ao contrário daquilo que eles contam. Infelizmente, já deu para perceber, como o Guarda dificilmente ficará cá para contar a forma como deu o tiro na cabeça, jamais terá a oportunidade de beneficiar de versão contrária e com isso ser considerado um herói. Consequentemente, está eternamente condenado a passar por mentiroso aos olhos dos detentores naturais da verdade que são todos menos ele.  
Com a teoria da conspiração a feder, o ambiente acabou por ficar ainda mais bafiento com a enxurrada de excremento que começou a fluir contra a acção desenvolvida pelas autoridades competentes na matéria. Na cabeça das pessoas, algumas especialistas em tudo e mais alguma coisa, as autoridades não pescam nada do assunto e já tiveram mais que tempo para prender o(s) suspeito(s). Talvez. Mas a este respeito uma coisa é certa: na crítica as pessoas têm a língua afiada, já quando é preciso colaborar com as autoridades perdem o pio sem distinção de sexo, idade e condição social. Quantas vezes o crime é cometido à vista de toda a gente e quando as autoridades questionam sobre os contornos da ocorrência ninguém ajuda rigorosamente nada. Uns são cegos. Outros são surdos. Outros, coitadinhos, são ambas as coisas. E os que não são uma coisa nem outra também não ajudam nada porque afinal… são mudos. No entanto, quando os jornalistas lhe passam o microfone falam pelos cotovelos para dizer que o suspeito era excelente pessoa, trabalhador, que nada havia a apontar em seu desabono e tudo o mais que seja necessário para o colocar no andor. 
Por falar em jornalistas recordo-me de ouvir duas coisas absolutamente notáveis numa intervenção televisiva. Uma tinha a ver com a falta de apoio psicológico prestado aos familiares do suspeito. A outra relacionada com a falta de competência da GNR para levar a efeito todas as acções subsequentes ao cometimento do crime. 
Realmente, a profissional do ecrã tem jeito para a coisa. Como é possível que o Estado português não tenha uma equipa de psicólogos e psiquiatras prontos a intervir a qualquer hora do dia ou da noite em situações do género? Podíamos perfeitamente copiar o modelo…. Sei lá…. Não me ocorre o nome do país onde tal sistema vigore. Mas a sugestão é boa. Assim que o crime fosse cometido todos os familiares do suspeito seriam apoiados psicologicamente e, se fosse necessário, de forma coerciva. Óptimo…
Quanto ao papel da GNR a observação não é menos brilhante. Prevenção é prevenção. Investigação criminal é investigação criminal. Cada macaco no seu galho. Depois do crime cometido, à luz deste princípio de separação de águas acerrimamente defendido pela dita sr.ª, compete à Guarda prevenir os crimes futuros e quanto aos que já foram cometidos nem que o suspeito lhe passe por debaixo dos bigodes não pode ser perturbado na sua acção. Assim, não deve ser mandado parar, muito menos identificado e jamais detido e entregue à entidade com competência para a investigação – a PJ. Excelente…
Mais uma vez terminamos com aquela que já se tornou a nossa máxima. Porcaria de país.



Bocas Lusas

terça-feira, 3 de maio de 2016


BOCA N.° 28 - AMOR NO TOPO

Depois de um periodo sabático que pretendia prolongar ainda por mais algum tempo, só mesmo o programa "Love on Top" da TVI para fazer regressar o Bocaslusas à actividade.
Dá gosto ver aquelas fémeas colocar o estaminé todo ao léu porque "o que é bom é para se ver", assim refere o adágio popular. Fraquinhas, fraquinhas, fraquinhas, de cabeça, mas, verdade seja dita, é cada <<coiro!!!>>.
Como dizia o meu avô: "gostava de ver aquelas badalhocas a sachar milho em pleno verão" para ver se tinham a mesma desenvoltura. Sim, gostava de ver aquelas meninas com tetas de plástico e unhas de gel a dar no duro para saber o que custa a vida. Havia de ser lindo... Desgraçado do campo de milho...
O que mais me emociona no dito programa (sou muito sentimental) são as desventuras amorosas da prole feminina. Tadinhas... Sofrem tanto. Mas quem é que as manda apaixonar todas pelo mesmo personagem? Não percebo: cinco ou seis fémeas e outros tantos machos, devia dar para todos. Admite-se que um ou outro seja mais pinante e pape duas, mas mesmo assim ainda deviam sobrar umas quantas para os outros.
Assim não. Tudo para o mesmo é crime de "açambarcamento" e além disso não tem piada nenhuma. O que é que elas veem num personagem que não dá meia para a caixa? Não sei. Há lá tipos com penteados prá-frentex, piercings em sítios do arco da velha, indumentárias exuberantes e grafities corporais obras de arte, mas sem direito a nada, enquanto o maior trambolho tem quantas quer.
Está visto. Quanto mais tonho melhor, este é o critério das madames.
Como é que o país há de ir para a frente com gente desta? Há ali mitras que, pela certa, nunca fizeram um dia de trabalho na vida. Se fosse no tempo do Marquês de Pombal, este já tinha dado ordem ao Intendente Pina Manique para fazer uma rusga pelos estúdios  da TVI e levar aqueles costas-ao-alto todos presos para as obras de reconstrução da cidade.  Há ali donas de casa que nem um ovo estrelado sabem fazer, quanto mais lavar a louça, fazer a cama ou varrer a casa, ainda que seja para tirar só a maior.
Está ali representado o fututo do país, ou seja, a geração de quem se espera o pagamento da dívida pública. Bem podem os credores esperar sentados.
É uma tristeza. Suponhamos que os castelhanos ou os muçulmanos invadem isto outra vez. Grandes combatentes nós temos para defender a nação. Já imaginaram um exército de infantes metrossexuais, com penteados esquisitos e corpo depilado, de arma em punho, prontos para enfrentar o inimigo? Acho que até os tiros teriam um som amaricado: pff, pff e pff.
Foi para isto que o Dom Afonso Henriques se zangou com a dona Teresa? Foi para isto que o Conde Andeiro galgou varanda abaixo? Foi para isto o Dom Carlos foi passado pelo fuzil? Foi para isto que o Marcelo Caetano foi evacuado numa xaimite do Quartel do Carmo? Bela democracia a nossa. Grande sociedade ela produziu.

domingo, 24 de janeiro de 2016







Resultado de imagem para boletim de voto eleições presidenciais 2016BOCA N. 27: O BOCASLUSAS FOI VOTAR


Não sei porque razão mas hoje acordei extremamente ansioso para ir votar. Nunca tal coisa me aconteceu: à hora da abertura da assembleia de voto já eu estava em lista de espera para exercer o meu direito de cidadania. Não consigo encontrar explicação para esta súbita vontade, logo eu que, em regra, costumo votar tarde e a más horas. Isto, quando voto, porque nos últimos anos tenho preferido malhar umas imperiais.
Mal recebi o boletim de voto comecei a perceber a razão de tanta inquietude. Já sabia que havia uma farturinha de candidatos e que a escolha não ia ser fácil, mas uma coisa era ouvir falar sicrano e beltrano outra bem distinta era vê-los ao vivo e a cores, todinhos, alinhados em bicha pirilau, sorridentes, a pedir estarrecidamente o voto cá do personagem.
Estava tudo explicado. Desta vez, perante a existência de dez candidatos, o meu subconsciente alertou-me de que seria necessário, no mínimo, parte substancial da manhã, senão parte da tarde, para decidir finalmente em quem votar, portanto convinha ir cedo. E tinha razão: não é que as fotos dos ditos, depois de retocadas, me fizeram vacilar à última hora. Este, afinal, parece um indivíduo honesto. O outro até nem é tão mal amanhado quanto aparenta na TV. Esta comia-se ao pequeno almoço. Aquela, mesmo entradota, também marchava. É pá, tudo coisas que não têm nada a ver com a competência para o cargo, mas que, venha quem vier, acabam por influenciar o eleitor na hora de colocar a cruzinha.
Acabei por resolver o impasse de forma simples. Escolhi um candidato ao acaso para começar a sequência e de seguida foi um, dó, li, tá, quem está livre - livre está. O último da série inicial foi excluído com alguma pena minha porque, é bom que se diga , embora fala-barato, até nem fica mal na função e ainda por cima dizem para aí à boca cheia que vai mesmo ganhar. Os restantes nem por isso. Um após outro foram afastados num ápice e sem contemplações até sobrarem dois: um macho e uma fêmea.  Naquela altura tinha necessariamente de mudar de sistema porque o um-dó-li-tá só com dois é o mesmo que chover no molhado. Se começasse por ele seria ela a excluída ,ou o contrário, o que acabava por retirar qualquer aleatoriedade ao resultado conforme eu pretendia. É que, só com dois, se iniciasse o um-dó-li-tá por ela era o mesmo que estar a votar nela conscientemente, o mesmo se aplicando a ele, e não era isso que eu tinha em mente.
Mas a verdade, verdadinha, é que eu estava sem ideias para resolver o dilema com a agravante de não poder pedir ajuda a ninguém. Por isso tinha mesmo de escolher um de entre os dois finalistas que, afinal, é aquilo que se passa na democracia mais avançada do mundo onde o boletim de voto só permite optar por carne ou por peixe mesmo sabendo-se que a fruta, os legumes e os ovos também são necessários.
Para decidir em consciência tinha de encontrar um critério objectivo, mas qual? Não gosto de homens com a agravante de o espécimen finalista ser mal esgalhado, mas escolher a madame só por ter uma cara laroca também não me pareceu correcto. Ela estava seguramente melhor preparada para o cargo, mas, em bom rigor, a avaliar pelos últimos anos, isso não fazia qualquer diferença no caso porque a coisa até parece andar melhor quando o patrão está fora. Para encontrar o melhor critério decidi interrogar-me da seguinte forma: num país com uma taxa de desemprego superior a 12% e em que os cidadãos com mais de 35 anos (idade mínima para poder ser candidato) têm dificuldade extrema em obter um posto de trabalho digno desse nome qual dos dois candidatos terá menor possibilidade de o obter em condições normais? No caso era ele e, por isso mesmo, foi nele que votei e dessa forma acho que acabei por fazer três favores: um a ele, outro a ela e outro ainda ao país.
A ele porque se fosse eleito assegurava-lhe sustento durante dez anos, uma vez que não há memoria de que  o contrato inicial de cinco anos  não tenha sido depois renovado por igual período. A ela porque em termos financeiros o cargo de PR significava passar de cavalo, ou melhor, de égua, para burra. Para o país porque tinha para mim que, se o candidato em causa chegasse mesmo a inquilino do palácio de Belém, como eu desejava, as despesas iriam baixar consideravelmente: por um lado o homem contentava-se certamente com bem menos mordomias do que o actual e, ao contrário deste, era menino para fazer ele mesmo as obras de conservação de que o imóvel necessitasse.
E quanto ao resto? Bem, não vejo que tivesse de fazer o que quer que fosse para liderar nas sondagens. Podia dormir umas sonecas valentes e acordar somente para as refeições e, vamos lá, para as cerimónias dos feriados oficiais. Kkkkkkkk

Bocaslusas