domingo, 24 de janeiro de 2016







Resultado de imagem para boletim de voto eleições presidenciais 2016BOCA N. 27: O BOCASLUSAS FOI VOTAR


Não sei porque razão mas hoje acordei extremamente ansioso para ir votar. Nunca tal coisa me aconteceu: à hora da abertura da assembleia de voto já eu estava em lista de espera para exercer o meu direito de cidadania. Não consigo encontrar explicação para esta súbita vontade, logo eu que, em regra, costumo votar tarde e a más horas. Isto, quando voto, porque nos últimos anos tenho preferido malhar umas imperiais.
Mal recebi o boletim de voto comecei a perceber a razão de tanta inquietude. Já sabia que havia uma farturinha de candidatos e que a escolha não ia ser fácil, mas uma coisa era ouvir falar sicrano e beltrano outra bem distinta era vê-los ao vivo e a cores, todinhos, alinhados em bicha pirilau, sorridentes, a pedir estarrecidamente o voto cá do personagem.
Estava tudo explicado. Desta vez, perante a existência de dez candidatos, o meu subconsciente alertou-me de que seria necessário, no mínimo, parte substancial da manhã, senão parte da tarde, para decidir finalmente em quem votar, portanto convinha ir cedo. E tinha razão: não é que as fotos dos ditos, depois de retocadas, me fizeram vacilar à última hora. Este, afinal, parece um indivíduo honesto. O outro até nem é tão mal amanhado quanto aparenta na TV. Esta comia-se ao pequeno almoço. Aquela, mesmo entradota, também marchava. É pá, tudo coisas que não têm nada a ver com a competência para o cargo, mas que, venha quem vier, acabam por influenciar o eleitor na hora de colocar a cruzinha.
Acabei por resolver o impasse de forma simples. Escolhi um candidato ao acaso para começar a sequência e de seguida foi um, dó, li, tá, quem está livre - livre está. O último da série inicial foi excluído com alguma pena minha porque, é bom que se diga , embora fala-barato, até nem fica mal na função e ainda por cima dizem para aí à boca cheia que vai mesmo ganhar. Os restantes nem por isso. Um após outro foram afastados num ápice e sem contemplações até sobrarem dois: um macho e uma fêmea.  Naquela altura tinha necessariamente de mudar de sistema porque o um-dó-li-tá só com dois é o mesmo que chover no molhado. Se começasse por ele seria ela a excluída ,ou o contrário, o que acabava por retirar qualquer aleatoriedade ao resultado conforme eu pretendia. É que, só com dois, se iniciasse o um-dó-li-tá por ela era o mesmo que estar a votar nela conscientemente, o mesmo se aplicando a ele, e não era isso que eu tinha em mente.
Mas a verdade, verdadinha, é que eu estava sem ideias para resolver o dilema com a agravante de não poder pedir ajuda a ninguém. Por isso tinha mesmo de escolher um de entre os dois finalistas que, afinal, é aquilo que se passa na democracia mais avançada do mundo onde o boletim de voto só permite optar por carne ou por peixe mesmo sabendo-se que a fruta, os legumes e os ovos também são necessários.
Para decidir em consciência tinha de encontrar um critério objectivo, mas qual? Não gosto de homens com a agravante de o espécimen finalista ser mal esgalhado, mas escolher a madame só por ter uma cara laroca também não me pareceu correcto. Ela estava seguramente melhor preparada para o cargo, mas, em bom rigor, a avaliar pelos últimos anos, isso não fazia qualquer diferença no caso porque a coisa até parece andar melhor quando o patrão está fora. Para encontrar o melhor critério decidi interrogar-me da seguinte forma: num país com uma taxa de desemprego superior a 12% e em que os cidadãos com mais de 35 anos (idade mínima para poder ser candidato) têm dificuldade extrema em obter um posto de trabalho digno desse nome qual dos dois candidatos terá menor possibilidade de o obter em condições normais? No caso era ele e, por isso mesmo, foi nele que votei e dessa forma acho que acabei por fazer três favores: um a ele, outro a ela e outro ainda ao país.
A ele porque se fosse eleito assegurava-lhe sustento durante dez anos, uma vez que não há memoria de que  o contrato inicial de cinco anos  não tenha sido depois renovado por igual período. A ela porque em termos financeiros o cargo de PR significava passar de cavalo, ou melhor, de égua, para burra. Para o país porque tinha para mim que, se o candidato em causa chegasse mesmo a inquilino do palácio de Belém, como eu desejava, as despesas iriam baixar consideravelmente: por um lado o homem contentava-se certamente com bem menos mordomias do que o actual e, ao contrário deste, era menino para fazer ele mesmo as obras de conservação de que o imóvel necessitasse.
E quanto ao resto? Bem, não vejo que tivesse de fazer o que quer que fosse para liderar nas sondagens. Podia dormir umas sonecas valentes e acordar somente para as refeições e, vamos lá, para as cerimónias dos feriados oficiais. Kkkkkkkk

Bocaslusas