sábado, 5 de novembro de 2016





Resultado de imagem para pistola



BOCA N.º 29: AGARRA QUE É LADRÃO, ASSASSINO OU AFIM


A telenovela construída em torno dos crimes de Moimenta-da-Beira aqueceu o sangue deste humilde escriba a ponto de o fazer acordar novamente de longa hibernação. 
Jazia ainda o corpo do agente da autoridade no local onde fora executado sem dó nem piedade e já a teoria da conspiração começava a circular. Afinal o que andava aquela alminha a fazer naquele local àquela hora da noite? Esta pergunta na cabeça de alguns cretinos faz sentido porque os guardas são pagos para passar as noites a dormir nos postos e não para patrulhar os locais ermos a desoras. Mas só na cabeça cheia de gravilha desses dementes.
Nunca ninguém disse a esses mentecaptos, não têm outro nome, de que por esse país fora há muita gente de bem a construir a sua habitação a pulso - outro tanto se diz de gente empreendedora relativamente às instalações da sua empresa – que num dia põe a caixilharia de alumínio no local e na manhã seguinte já pode ir comprar outra. 
Nunca ninguém disse a esses estúpidos, não têm outro nome, que os furtos de cobre utilizado nas instalações de aquecimento rendem muito bom dinheiro a alguns patifes que, pelos vistos, são os únicos que têm o direito de circular livremente por onde quiserem e à hora que bem entenderem. 
Nunca ninguém disse a esses palermas, não têm outro nome, que há empresários, sobretudo empreiteiros, que no fim da jornada de trabalho deixam os depósitos de combustível dos seus veículos e máquinas atestados junto às obras e no inicio da jornada seguinte não têm uma única gota para retomar as operações. Isto se tiverem a felicidade de ainda terem as respectivas baterias, jantes e outros componentes.
Nunca ninguém disse a esses labregos, não têm outro nome, que a caça ilegal é praticada nos locais desabitados e madrugada adentro, com enorme prejuízo para a fauna que é património de nós todos. Desconhecem certamente que há cidadãos exemplares a zelar pela preservação e fomento das espécies mais ameaçadas para meia dúzia de chico-espertos encherem as arcas frigoríficas e fazerem umas petiscadas à conta do otário.
Pelos vistos nunca ninguém disse a esses imbecis, não têm outro nome, mais uma série de coisas que os guardas têm obrigação de fazer durante a noite nos locais mais recônditos porque é para isso que lhes pagam. 
A conspiração foi ao ponto de se ouvir gente que supostamente joga com o baralho todo defender que a coisa está muito mal contada. Aconteceu tudo diferentemente daquilo que veio a público. Quem matou não matou. Quem morreu não morreu. Quem ficou ferido não ficou ferido. Quem passou acidentalmente no local nunca lá passou. Quem fugiu não fugiu. Os tiros não foram tiros. O sangue deixado no local não era sangue. Os carros abandonados não eram carros e se eram não foram abandonados. E assim sucessivamente.  Ou seja, as evidências apontam todas num sentido, mas o mais certo é que as coisas tenham ocorrido em sentido inverso. 
Neste país é mesmo assim: quando o Governo diz que as coisas estão bem é porque estão mal; quando o JJ diz que o Sporting vai ganhar é porque vai perder e, já agora, quando minha a mulher diz que lhe dói a cabeça não lhe dói coisa nenhuma. Portanto, quando o Guarda disser que deu um tiro na cabeça nessa altura sim, podem convencer-se que foi um malandro que lhe enfiou um balázio na tola porque as coisas são sempre ao contrário daquilo que eles contam. Infelizmente, já deu para perceber, como o Guarda dificilmente ficará cá para contar a forma como deu o tiro na cabeça, jamais terá a oportunidade de beneficiar de versão contrária e com isso ser considerado um herói. Consequentemente, está eternamente condenado a passar por mentiroso aos olhos dos detentores naturais da verdade que são todos menos ele.  
Com a teoria da conspiração a feder, o ambiente acabou por ficar ainda mais bafiento com a enxurrada de excremento que começou a fluir contra a acção desenvolvida pelas autoridades competentes na matéria. Na cabeça das pessoas, algumas especialistas em tudo e mais alguma coisa, as autoridades não pescam nada do assunto e já tiveram mais que tempo para prender o(s) suspeito(s). Talvez. Mas a este respeito uma coisa é certa: na crítica as pessoas têm a língua afiada, já quando é preciso colaborar com as autoridades perdem o pio sem distinção de sexo, idade e condição social. Quantas vezes o crime é cometido à vista de toda a gente e quando as autoridades questionam sobre os contornos da ocorrência ninguém ajuda rigorosamente nada. Uns são cegos. Outros são surdos. Outros, coitadinhos, são ambas as coisas. E os que não são uma coisa nem outra também não ajudam nada porque afinal… são mudos. No entanto, quando os jornalistas lhe passam o microfone falam pelos cotovelos para dizer que o suspeito era excelente pessoa, trabalhador, que nada havia a apontar em seu desabono e tudo o mais que seja necessário para o colocar no andor. 
Por falar em jornalistas recordo-me de ouvir duas coisas absolutamente notáveis numa intervenção televisiva. Uma tinha a ver com a falta de apoio psicológico prestado aos familiares do suspeito. A outra relacionada com a falta de competência da GNR para levar a efeito todas as acções subsequentes ao cometimento do crime. 
Realmente, a profissional do ecrã tem jeito para a coisa. Como é possível que o Estado português não tenha uma equipa de psicólogos e psiquiatras prontos a intervir a qualquer hora do dia ou da noite em situações do género? Podíamos perfeitamente copiar o modelo…. Sei lá…. Não me ocorre o nome do país onde tal sistema vigore. Mas a sugestão é boa. Assim que o crime fosse cometido todos os familiares do suspeito seriam apoiados psicologicamente e, se fosse necessário, de forma coerciva. Óptimo…
Quanto ao papel da GNR a observação não é menos brilhante. Prevenção é prevenção. Investigação criminal é investigação criminal. Cada macaco no seu galho. Depois do crime cometido, à luz deste princípio de separação de águas acerrimamente defendido pela dita sr.ª, compete à Guarda prevenir os crimes futuros e quanto aos que já foram cometidos nem que o suspeito lhe passe por debaixo dos bigodes não pode ser perturbado na sua acção. Assim, não deve ser mandado parar, muito menos identificado e jamais detido e entregue à entidade com competência para a investigação – a PJ. Excelente…
Mais uma vez terminamos com aquela que já se tornou a nossa máxima. Porcaria de país.



Bocas Lusas

0 comentários :

Enviar um comentário