sábado, 14 de fevereiro de 2015



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Boca n.º 4: A violência doméstica na perspectiva de um chefe de família à moda antiga


Portugal já não é que era. Benditos tempos de ditadura em que um homem dava um murro na mesa e não precisava de alongar a conversa. E quando as mulheres não entendiam a mensagem vai daí e manda uns estalos a torto e a direito que a coisa entrava logo nos eixos. Batatas mal cozidas! Vai lá vai. Roupa suja para lavar no dia seguinte! Isso é que era doce. Tinham mas é de fazer muita atenção durante a refeição para que o copo do marido nunca estivesse às moscas senão! Bem, senão levavam mais do mesmo. E se não estavam bem que se pusessem dizia o meu avô a propósito do primeiro chega para lá que teve com a minha avó.
- Dei-lhe um correctivozito e disse-me logo que queria partir tudo (dividir os haveres e cada um para seu lado). E eu fiz-lhe a vontade a começar pelo pote de barro onde se guardava a água potável. Peguei nele, levantei-o à altura da cabeça e escaqueirei-o no chão. Agora escolhe a tua parte!!!
Nunca mais aquela alminha quis partir o que quer que fosse por mais abanões que levasse. Inclusive desconfio que nunca mais lhe doeu a cabeça na hora da função.
E agora? Miséria do carago: o marido dá uns calditos e está desgraçado da vida. Já os vi ir para a pildra pela ninharia de um olho negro, dois braços deslocados e uma quantas costelas partidas. Quer dizer: chega um homem a casa farto de trabalhar e já não tem o direito de fumar uma cigarrada sentadinho na poltrona e esticar os presuntos em cima da mesa sem ter de ouvir a Maria com essas tretas da igualdade. Isto as mais mansas porque se um gajo tem o azar de calhar com uma que tenha pêlo na venta ai ai, o caldo entorna-se. E não têm vergonha nenhuma. No dia seguinte em vez de taparem as partes o que é que elas fazem? Fazem pior: vestem uns farrapitos que deixam as nódoas negras bens expostas e vão por aí deitar os maridos pelas ruas da amargura. Mas da roupa suja e das outras badalhoquices não falam elas, quanto mais das desbundas sem rei nem roque que levam os maridos a trabalhar de dia e de noite.
Está visto. O desgraçado é que é o coirão. E como se não bastasse ter de levar com a filha tem de levar também com a sogra, com as cunhadas, com os filhos e com o resto da corja. Todos malham no ceguinho e um homem não pode fazer nada. Depois quando a panela rebenta já se sabe: vai tudo nas horas do c.... e um homem desgraça a vida. De seguida vem a Guarda e nem pergunta como é que foi. Mais uns tabefes haja ou não haja razão e a coisa não fica por aqui.
No tribunal com um pouquinho de sorte leva-se com uma pulseira no chispe como quem põe anilhas num pombo correio. E não acaba sem vir uma juíza ainda de cueiros meter-nos o dedo no nariz e gritar-nos aos ouvidos: 
- Prá próxima vai directamente para detrás das grades..percebeu?
Que remédio, entendemos tudo perfeitamente. Nem adianta falar: tá bem que a gente fez o gosto ao dedo na mulher, na sogra e nos reforços que entretanto foram chegando, mas elas também distribuíram fruta com fartura que nós bem sentimos, mas com isso ninguém se importa.
Dai para a frente a vida de um chefe de família é sempre a decair. Normalmente é despejado do barraco e não pode ir a lado nenhum sem se assegurar que a malvada não vai lá estar também. Vai para um.lado e a coisa apita. Vai para o outro e a coisa apita outra vez. P.... que pariu para esta vida. 
Agora começo a perceber porque é que tantos homens mudaram de equipa, alguns já quase no final da segunda parte. É que alguns «homens» são mais macios que muitas mulheres. Muitos não se importam sequer de levar umas palmadas no cagueiro. Quando muito gemem ui, ui, ui, ai, ai, ai, mas aguentam-se de cara alegre.
Aos pontos a que nós chegámos.

Bocaslusas

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