Boca n.3: A liberalização das drogas leves
Continuando na senda das declarações da ministra da
justiça acerca da liberalização do consumo de drogas leves perguntamos nós: e
por que não? Então cada um não é livre de meter o que bem lhe apetece no corpinho.
Alguém tem alguma coisa a ver se um cidadão fuma tabaco, barbas de milho ou
charros. Mete alguma piada um individuo gastar dinheiro e não tirar proveito
nenhum apenas porque tem de estar constantemente a espreitar por cima do ombro
não vão os bófias ou os guitas meter o nariz onde não são chamados.
A mulher tem toda a razão. Cada um deve poder rir-se
sozinho quando e onde bem entender sem correr o risco de pagar uma coima ou ir
preso. Mais, rir sem motivo aparente não deve ser razão para que os agentes de
autoridade tenham legitimidade para virar tudo do avesso à procurar das causas
de tamanha boa disposição. Aliás, os próprios agentes deviam ser obrigados a
submeter-se aos efeitos dessas substâncias milagrosas como forma de combater o
seu habitual azedume e mau feitio. Em suma, o direito ao riso estúpido devia
ser universal e constitucionalmente protegido para que não houvesse dúvidas a
respeito dos seus incomensuráveis benefícios.
A mulher têm razão sim senhor,
embora extemporânea. Se tivesse concretizado a sua intenção no início da
legislatura tinha-nos poupado muito sofrimento porque tínhamos enfrentado a
crise de barriga vazia mas de cara alegre. Que contra-senso: escanzelados, mas
contentes.
Concordo com ideia mas não subscrevo a forma como alguns
crânios da praça a querem implementar. Porquê vender estas substâncias na
farmácia mediante prescrição médica? Não é boa ideia. Então um homem tinha de
ir à farmácia e pedir a mercadoria por entre os dentes como se fosse comprar
uma resma de viagra. Se as farmácias pusessem os produtos à vista nas
prateleiras, ainda vá que não vá. Usávamos um boné de pala comprida
e óculos de sol e acenávamos com o dedo. Não estou a ver o portuga a
dirigir-se ao botequim lá do bairro e de peito feito pedir uma saqueta de erva
ou uma bisnaga de chamon. Na. Na. O português é mais de ficar para o fim da
fila e balbuciar de mansinho quanto baste: meio pintor de haxixe. E o
farmacêutico responder: só temos em xarope mas faz a mesma vez.
Depois, se a coisa começasse a meter médicos e
farmácias ia descambar na pouca-vergonha do costume. Já estou a ver o filme: o
médico prescrevia o produto mas não autorizava a substituição por genérico. A farmácia
substituía o genérico e comprava uma guerra com o médico. E o governo ia ficar
quietinho? Isso é que era bom. Não acredito que resistisse a meter o bedelho:
consentia a venda mas proibia as prendas, as ofertas ou os simples brindes. E as
amostras? Ai. Ai. Amostras nem velas não fossem os médicos fazer concorrência
desleal aos antigos traficantes agora subitamente transformados em empresários
da saúde. E como é que os delegados da propaganda aditiva montavam o estaminé e
vendiam a banha da cobra nos hospitais e centros de saúde? Havia de ser lindo
assistir a essas negociatas.
Farmácias e médicos não. Bom, mesmo bom era permitir
a venda dos ditos produtos nos supermercados, assim como se vendem os chás ou
produtos homeopáticos. E se fossem vendidos em estabelecimentos do género
daqueles onde se vendem as gomas, melhor ainda. A gente só teria de pegar na
saqueta e na tenaz e vai daí: 50 gramas de cannabis, 10 gramas de liamba, 4/5 cogumelos
alucinogénios e depois era só dirigir-se à caixa, pagar e andar sem ter de
passar cavaco a ninguém. Mas há um senão. Estes estabelecimentos estão
vocacionadas para o comércio a retalho mas não tem capacidade para fornecer os
grandes eventos. Um tipo que organiza uma festa de arromba não pode andar a comprar
à peça: não compensa. Para estes casos o sistema tinha de prever uma rede mais
organizada com revendedores, armazenistas e importadores. Consoante as
necessidades um indivíduo só tinha de chegar, encostar o furgão ao cais e
carregava as paletes que bem entendia. Onde está o mal? Se um indivíduo é
convidado para um almoço mal será se tiver de levar a comida de casa. De igual
modo, se é convidado para uma festa de arromba não vai levar a brocazita no bolso
porque supostamente compete ao anfitrião ter a mesa farta que é como quem diz ter
droga à descrição para toda a gente. E para que isso seja possível tem
necessariamente de haver empresas capazes de garantir o catering.
Venha a liberalização das drogas leves. Sou a favor.
Das drogas leves, das drogas duras, das drogas semi-leves, das drogas semi-duras, das drogas levíssimas, das drogas duríssimas, de tudo. Sou a favor de tudo até cair de cu. Sim porque com a liberalização do consumo deve dar-se também a liberalização da
produção e não faz sentido comprar aos outros aquilo que podemos produzir cá.
Já estou a ver o Alentejo pejado de cannabis e porque não de papoilas a fazer
frente às tulipas holandesas. Temo que o aeroporto de Beja não consiga dar
escoamento à produção. A ideia da ministra foi o embrião para a criação de um
cluster nacional que não terá paralelo na
Europa e no mundo e que nos vai tirar da penúria. Que pena não ter tido esta
ideia antes?
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