Boca n.2: Ministras e não
ministras
A ministra da justiça afirmou
esta semana ser a favor da liberalização do consumo de drogas leves e logo o
primeiro-ministro se apressou a dizer que as afirmações tinham sido proferidas
a título pessoal. Boa. Foi ela mas podia ter sido outra. Vivemos num país de
ministros intermitentes: quando a coisa corre bem são ministros e quando dá
para o torto são cidadãos comuns de tal modo que as declarações a título
pessoal Já se tornaram um ícone da política nacional, o equivalente àquilo que
na cerâmica representa o galo de Barcelos ou o falo das Caldas.
E como é que o povo distingue as
ministras das não ministras para saber o que deve ou não levar a sério? Quais
os sinais exteriores que permitem identifica-las? Pela prole que as acompanha não
vamos lá porque em quaisquer circunstâncias suas excelências fazem-se escoltar
de mais que muitos, desde anfitriões, guarda-costas, assessores, emplastros,
profissionais do chinfrim, jornalistas a sério, jornaleiros de trazer por casa
e mais não sei quantos. E pela fatiota? Por aí talvez seja mais fácil: quando
usam roupa de griffe são ministras pela
certa, mas quando usam modelos comprados no chinês são «não ministras». E pelo
penteado? Bem, em tempos bastava olhar para a trunfa e num ápice chegava-se lá:
quando usavam aquelas permanentes de r/c e primeiro andar que não tremiam nem
que a vaca tossisse eram ministras, mas quando se apresentavam de cabelo lambido eram gente do povo sem qualquer dúvida.
Infelizmente nos dias que correm a
roupa e o cabelo servem mais para baralhar o povo do que outra coisa tendo em
conta que há muitas vendedoras na praça com mais apresentação do que algumas
mulheres com responsabilidade no Governo. Sob estes critérios sujeita-mo-nos a
tratar por excelência a Rosa peixeira e por tí Maria as verdadeiras ministras. Por
isso tenho andado muito intrigado sobre a forma como o primeiro-ministro
consegue fazer a distinção. Deve ter um sexto ou sétimo sentido. Cá para mim é
pela sombra: se as madames estão a título pessoal têm sombra como qualquer
humano; se estão na qualidade de ministras não têm sombra como os fantasmas.
Porra,
não pode ser: mesmo o comum dos mortais à hora de almoço e à noite não tem
sombra. No primeiro caso porque o sol vai a pique no segundo porque não há sol.
Então nessa altura como é que o homem faz para distinguir as ministras das não
ministras?
Resposta: não distingue, mas também não é preciso. À hora de almoço come-se e
durante a refeição enquanto se capa não se assobia ou seja, não se fala, e não
se falando não se dizem baboseiras. Do mesmo modo à noite janta-se e durante o
jantar toca o vira e dança o mesmo, isto é, enquanto se remói não se fala e,
mais uma vez, estando caladas não entra mosca ou sai asneira. E depois do
jantar, se suas excelências tiverem feito algo durante o dia, vão ficar com o
corpo tão moidinho que, como qualquer português, vão querer ir para a caminha
quanto antes para repousar o esqueleto. E na cama se quiserem dizer baboseiras
que digam, se quiserem fazer baboseiras que façam, inclusive se quiserem sonhar
com baboseiras que sonhem desde que pela manha só saiam de casa já com o sol
alto para que o maioral, pela sombra, consiga saber quando estão a dizer
baboseiras novamente e possa desvaloriza-las, dizendo que foram proferidas a
título pessoal.
Como é evidente, nesta altura já o portuguesito tem quase meio-dia
de trabalho feito.
Bocaslusas
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