Boca n.º 7: Sacos de plástico, direitos fundamentais e símbolos nacionais
Esta semana ficou marcada por um acontecimento que
pode fazer estremecer a nossa democracia e que infelizmente passou ao lado dos
noticiários: estou a falar da taxação do uso dos sacos de plástico nos
supermercados introduzida pelo Ministro JMS e com efeitos a partir do dia 15. Como
é possível um direito que nasceu praticamente com o 25 de Abril, que resistiu a
vários governos e revisões constitucionais e que é um marco do nosso progresso
económico e social, ser abolido assim da noite para o dia. Havia algum direito
adquirido mais adquirido que o direito aos sacos de plásticos nos
hipermercados? Não me parece. O direito ao saco de plástico era um direito
inalienável do consumidor. O consumidor tinha direito a ele simplesmente pelo
facto de comprar uma caixa de palitos, dois quilos de alho-porro ou um litro de
tintol, como tem direito à vida só pelo facto de estar vivo. Além de constitucionalmente e legalmente duvidosa a medida é profundamente imoral porque deixa a nú os piores instintos deste e de outros governos: primeiro deixam o povo tornar-se saco-plástico-dependente e no fim de estar completamente viciado fá-lo pagar os ditos sacos com língua de palmo.
E agora? Bem, agora, no mínimo, os consumidores
deviam exigir que os produtos viessem já ensacados tais como o arroz, o papel
higiénico ou a comida para os cães. E os vendedores nem sequer faziam nada de
mais porque por ora apenas eles vão beneficiar com a medida: enquanto
anteriormente a funcionária da caixa metia uma couve-galega no saco agora
regista dez carcaças e não sei quantos quilos de carapau no mesmo tempo. Portanto,
os Santos e os Azevedos é que vão lucrar no imediato: enquanto anteriormente
aviavam um agora aviam cinco; e se o pilim não cai cinco vezes mais, cai seguramente cinco
vezes mais rápido.
Como era de esperar os desgraçados do costume é que
vão pagar as favas. Já os estou a ver por esses hipermercados fora a semear
latas de sardinha, sabonetes e caixas de preservativos só para não darem mais uns míseros
cobres por meia dúzia de sacos de plástico. Nos parques de estacionamento ao ar
livre em dias de temporal vai ser de partir o caco a rir vê-los fazer o
transbordo das batatas e salsichas de Frankfurt, enquanto os outros esperam
impacientes pelo lugar de estacionamento que nunca mais vaga. Que belo postal. E quando a sogra enjoar no banco traseiro durante a viagem de regresso a casa não vai haver saquinhos à mão: se quiser que vomite borda fora que é assim que os marujos fazem no mar alto. E quando o Carlitos começar a feder também não vai haver saquitos para guardar a fralda: ou vai para o bolso do casaco ou para o guarda luvas, mas preparem-se que o ambiente vai ficar um bocado pesado dentro do carro, especialmente com o aquecimento ligado.
E para onde vai a caquinha do bóbí quando ele evacua
no passeio? Resposta: Fica lá se nenhum transeunte o levar para casa
agarradinho à sola dos sapatos. Então os portugas não pagam dez cêntimos pelos sacos necessários para
guardar aquilo que comem e acham que vão dar outro tanto ou mais pelos sacos
necessários para guardar aquilo que o cão c….ga. Ná.
E aquela imagem dos contentores do lixo com capacidade para
cem mas que os portugueses em sinal da sua imensa sabedoria conseguiam adaptar
para duzentos. Alguma vez alcançavam tamanhos padrões de
eficiência e sentido estético sem o sistema padronizado de sacos de lixo made in hipermercado? Nunca. Sem eles
não seria possível alcançar os dois metros quanto mais os três metros de
altura. Sem eles aquelas pirâmides dignas de um faraó seriam apenas um
simples amontoado de lixo como se houvesse greve de recolha todos os dias.
Por este andar estamos em vias de perder até uma das
espécies de maior sucesso dos nossos ribeiros, rios e albufeiras, e que tanto
grandes planos têm dado a muitos fotógrafos premiados e não só. Sim, estou a falar
daquelas anémonas de água doce que flutuam graciosamente à superfície das águas
ao sabor das correntes. Estamos sujeitos a nunca mais poder contemplar este
espectáculo sublime que só encontra paralelo nas águas super-conspurcadas dos canais de Veneza. Se nos retirarem as anémonas que
façam o serviço completo e acabem também com as garrafas de litro e meio a flutuar.
Mas há mais. Então e quando as mulheres tiverem de
por as trouxas dos maridos à porta como vai ser? Com os sacos do intermarché e do lidl já não se podia contar porque a gente sabe que os franceses e
os alemães não têm sensibilidade nenhuma, mas os portugueses! Não se esperava
uma coisa destas do continente. É uma falta de consideração tremenda para os
coirões, adúlteros e equiparados nacionais. Não sei o que vai ser deles. Mas
por outro lado é-lhes bem feito. À primeira ainda se compreendia que não estivessem
preparados para uma acção de despejo repentina, mas à segunda já deviam estar precavidos
com os tais sacos de cinquenta cêntimos que só se compram uma vez e dão para
sempre.
Mas se os Soares e os Azevedos se ficam a rir por enquanto, mais tarde vão ver que o negócio lhes vai sair furado. Como é que de futuro
vão fazer publicidade das suas casas comerciais na Espanha, na França, em
Andorra, na Alemanha, na Suíça, no Brasil, nos Estados Unidos, na Venezuela, no
Canadá e tudo o que é cantinho por esse mundo fora onde há portugueses? Não
vão. O graveto que ganham com os sacos de cinquenta cêntimos não dá para dez
segundos de publicidade por semana numa televisão por cabo de quinta categoria
em qualquer destes países. Como é que o governo pensava que os americanos,
alemães, franceses, etc., conheciam o continente, o pingo-doce e o supermercado
da tia Maria Martinho a ponto de, quando nos visitam, estes estabelecimentos serem locais de passagem obrigatória quando muitas vezes não põem os pés nos Jerónimos, em Fátima ou em Alvalade? Não era dos filmes. Conhecem aquelas marcas por
verem os portugueses passar ano após ano com os ditos sacos nas mãos em gares,
portos e aeroportos por esse mundo fora. Sim porque era também nesses sacos que os
nossos conterrâneos na Diáspora levavam o bom salpicão de Chaves ou queijo da
Serra da Estrela para comer e dar a provar aos seus vizinhos. Pois, se não
pensaram nisso que tivessem pensado. Agora o Governo que diga à AICEP para
pagar a publicidade no estrangeiro a essas empresas e que indemnize os produtores de fumeiro
transmontano e os pastores de Manteigas, Seia e Celorico da Beira. Não estou a ver que os queijos e os salpicões de futuro passem a ser transportadas em malas Louis Vuitton.
Que mais acontecerá aos símbolos deste país. Com este Governo e ao ritmo que as
velhas com bigode sentadas à soleira da porta estão a ir deste para o outro
mundo, no espaço de meia dúzia de anos não haverá mais nada que nos distinga dos outros. E quando assim for o que virão os turistas cá fazer?
Por causa de uma infecção ocular na Sexta-feira à tarde fui a uma farmácia em Coimbra aviar uma receita. Feita a conta e paga a despesa através de multibanco foi-me colocada a mercadoria em cima do balcão, a qual consistia numa pequena embalagem de gotas oftalmológicas e numa bisnaga minúscula de pomada em gel. Depois disto a sr.ª farmacêutica virou costas e ausentou-se. Passados instantes regressou e como eu ainda estava no mesmo local perguntou-me se faltava algum medicamento. Eu, que permaneci no local de forma quase reflexa, respondi-lhe que pensava que a sr.ª farmacêutica se tinha ausentado para ir buscar o saquito para colocar os medicamentos ao que ela me respondeu que agora os sacos tinham que ser pagos. Veio-me um acesso de riso que demorou vários segundos e como a farmácia estava quase cheia de clientes tive de sair para me acalmar. Passado uns instantes entrei novamente na farmácia e, ainda com as lágrimas nos olhos, perguntei à tal farmacêutica.
- Desculpe minha senhora, mas como tenho os bolsos rotos vou mesmo ter de adquirir o dito «sacalhão». Quanto custa afinal?
- Dez cêntimos. Respondeu a funcionária com o saco minúsculo na mão e esforçando-se para conter o riso.
- E pá!!! Isso é especulação - respondi eu - felizmente vocês não vendem aqui presuntos.
Foi a risada geral e tive mesmo de trazer o medicamento debaixo do barrete porque não me aceitaram novamente o multibanco para pagar a despesa.
2 comentários :
O que os portugueses deviam fazer era exigir que os sacos que são obrigados a pagar, não tivessem publicidade pois se pagam tem direito a exigir.
Para esta medida não se ouviu grande alarido contra, porque se fosse alguma coisa que fosse contra esses filhos da p... que nos chulam a toda a hora, moviam as montanhas todas para parar esta medida.
Excelentisso leitor compreendo a sua indignação mas este é um blog de respeito. Assim, agradeço que tenham moderação na linguagem e não digam impropérios. Talvez fosse mais adequado substituir os termos que utilizou por merdosos, ranhosos, chungosos ou outros do género para não ferir susceptibilidades.
Enviar um comentário